sexta-feira, 8 de agosto de 2008

"Quem conta um conto aumenta um ponto"

O QUE É MESMO CONTO POPULAR?

Os contos populares são anônimos, de origem longínqua e imemorial. Porém, nos nossos dias, os contos populares são, antes de qualquer coisa, textos fixados pela escrita nas revistas folclóricas, nas recolhas dos estudiosos, nos livros para crianças. São clássicos do Brasil e Portugal.
Na sua maioria de ensinamentos, sobrevivem e são divulgados de forma oral desde o tempo do descobrimento, ou antes, já que muitos foram ajustados de versões da Europa Medieval. Ao contrário das lendas, não se espera que os fatos relatados nos contos populares tenham, na verdade, acontecido e normalmente não envolvem heróis nacionais.
Embora o termo "conto popular" seja muitas vezes usado com a definição de "conto de fadas" e vice-versa, são duas formas literárias diferentes. No entanto, de um modo geral, os contos populares falam dos costumes, superstições e crenças de pessoas comuns, já os contos de fadas costumam estar habitados de duendes, fadas e outras criaturas fantásticas com poderes mágicos. A Madrasta, por exemplo, é uma somatória de contos populares infantis, entre eles, e principalmente, A Menina enterrada viva.
A noite é a ocasião mais favorável para contar histórias às crianças, antes do seu sono, e aos mais adultos durante as suas reuniões tardias. O narrador concentra toda a sua sutileza e a sua expressão para contar as suas histórias, com intenção de transmitir, o melhor possível, as suas mensagens e a sua moralidade.
O Conto infantil só estabeleceu legitimamente uma forma literária resolvida na ocasião em que os Irmãos Grimm, no início do século XIX, deram a uma coletânea de narrativas o título de Kinder und Hausmärchen (Histórias das Crianças e do Lar). Foi este trabalho dos Grimm que agrupou a variedade de textos infantis que até então existia num conceito padronizado que, como tal, passou a ser a base de todas as inúmeras coletânea seguintes ao século XIX.
Diversos psicanalistas já apontaram a importância dos contos populares ou infantis para a estruturação da individualidade da criança ou do adulto. Na verdade, os contos traduzem as barreiras que a criança vai percorrer os problemas que a ameaçam, os medos de destruição ou de morte, a sexualidade, as perversões, etc. Daí que só possamos concluir pela importância que este tipo de narrativas teve, tem e continuará a ter nas sociedades.

Quem somos/Nosso propósito


Com o acompanhamento da professora de Produção de texto Mary Jane Dias da Silva este blog, realizado por alunas universitárias do curso de Letras Português da Universidade Federal de Sergipe - Ana Bárbara Santos Costa, Elys Daniele Siqueira e Graziele dos Santos Monteiro - tem como objetivo didático. Pretende o alcance de alunos de ensino fundamental a ensino médio e, com isso, despertar nos mesmos uma curiosidade e uma interesse maior acerca do gênero abordado neste veículo de comunicação que se traduz em Contos Populares.

Os Compadres Corcundas

Era uma vez, dois compadres corcundas, um Rico outro Pobre. O povo do lugar vivia zombando da corcunda do Pobre e não reparava no Rico. A situação do Pobre andava preta, e ele era caçador.
Certo dia, sem conseguir caçar nada, já tardinha, sem querer voltar para casa, resolveu dormir ali mesmo no mato.
Quando já ia pegando no sono ouviu uma cantiga ao longe, como se muita gente cantasse ao mesmo tempo.
Saiu andando, andando, no rumo da cantiga que não parava. Depois de muito andar, chegou numa clareira iluminada pelo luar, e viu uma roda de gente esquisita, vestida de diamantes que brilhavam com a lua. Velhos, rapazes, meninos, todos cantavam e dançavam de mãos dadas, o mesmo verso, sem mudar:
Segunda, Terça-feira,
Vai, vem!
Segunda, Terça-feira,
Vai, vem!
Tremendo de medo, escondeu-se numa moita e ficou assistindo aquela cantoria que era sempre a mesma, durante horas.
Depois ficou mais calmo e foi se animando, e como era metido a improvisador, entrou no meio da cantoria entoando:
Segunda, Terça-feira,
Vai, vem!
E quarta e quinta-feira,
Meu, bem!
Calou-se tudo imediatamente e aquele povo espalhou-se procurando quem havia falado. Pegaram o corcunda e o levaram para o meio da roda. Um velhão então perguntou com voz delicada:
- Foi você quem cantou o verso novo da cantiga?
- Fui eu, sim Senhor!
- Quer vender o verso? - perguntou então o Velhão.
- Quero sim, senhor. Não vendo não, mas dou de presente porque gostei demais do baile animado.
O Velho achou graça e todo aquele povo esquisito riu também.
- Pois bem - disse o Velhão - uma mão lava a outra. Em troca do verso eu te tiro essa corcunda e esse povo te dá um Bisaco novo!
Passou a mão nas costas do caçador e a corcunda sumiu. Lhe deram um Bisaco novo e disseram que só o abrisse quando o sol nascesse.
O Caçador meteu-se na estrada e foi embora. Assim que o sol nasceu abriu o bisaco e o encontrou cheio de pedras preciosas e moedas de ouro.
No outro dia comprou uma casa com todos os móveis, comprou uma roupa nova e foi à missa porque era domingo. Lá na igreja encontrou o compadre rico, também corcunda. Este quase caiu de costas, assombrado com a mudança. Mais espantado ficou quando o compadre, antes pobre e agora rico, contou tudo que aconteceu ao compadre rico.
Então cheio de ganância, o rico resolveu arranjar ainda mais dinheiro e livrar-se da corcunda nas costas.
Esperou uns dias e depois largou-se no mato. Tanto fez que ouviu a cantoria e foi na direção da toada. Achou o povo esquisito dançando numa roda e cantando:
Segunda, Terça-feira,
Vai, vem!
Quarta e quinta-feira,
Meu, bem!
O Rico não se conteve. Abriu o par de queixos e foi logo berrando:
Sexta, Sábado e Domingo,
Também!
Calou-se tudo novamente. O povo esquisito voou para cima do atrevido e o levaram para o meio da roda onde estava o velhão. Esse gritou, furioso:
- Quem mandou se meter onde não é chamado seu corcunda besta? Você não sabe que gente encantada não quer saber de Sexta-feira, dia em que morreu o filho do alto; sábado, dia em que morreu o filho do pecado, e domingo, dia em que ressuscitou quem nunca morre? Não sabia? Pois fique sabendo! E para que não se esqueça da lição, leve a corcunda que deixaram aqui e suma-se da minha vista senão acabo com seu couro!
O Velhão passou a mão no peito do corcunda e deixou ali a corcunda do compadre pobre. Depois deram uma carreira no homem, que ele não sabe como chegou em casa.
E assim viveu o resto da sua vida, rico, mas com duas corcundas, uma na frente e outra atrás, para não ser ambicioso.

O Menino o Burro e o Cachorro

Um menino foi buscar lenha na floresta com seu burrico e levou junto seu cachorro de estimação.
Chegando no meio da mata, o menino juntou um grande feixe de lenha, olhou para o burro, e exclamou:
- Vou colocar uma carga de lenha de lascar nesse burro!
Então o Jumento virou-se para ele e respondeu:
- É Claro, não é você quem vai levar!
O Menino muito admirado com o fato de ter o burro falado, correu e foi direto contar tudo ao seu pai. Ao chegar em casa, quase sem fôlego, ele disse:
- Pai, eu estava na mata juntando lenha e depois de preparar uma carga para trazer, e quando eu disse que ia colocá-la na garupa do burro, acredite se quiser, ele se virou para mim e disse: "É Claro, não é você quem vai levar!"
O Pai do menino, olhou-o de cima para baixo, e meio desconfiado repreendeu ele:
Você está dando para mentir agora. Onde já se viu tal absurdo, animais não falam!
Nesse momento, o cachorro que estava ali presente, saiu em defesa do garoto e falou:
Foi verdade, eu também estava lá e vi tudinho!
Assustado o pobre camponês, julgando que o animal estivesse endiabrado, pegou um machado que estava encostado na parede e o ergueu para ameaçá-lo.
Nesse momento, aconteceu algo ainda mais curioso. O machado começou a tremer em suas mãos, e de dentro dele saiu uma voz que soava temerosa:
O senhor tenha cuidado, esse cachorro pode me morder!

O Bicho Folharal

Cansada de ser enganada pela raposa e de não poder segurá-la, a onça resolveu atraí-la à sua furna. Fez para esse efeito correr a notícia de que tinha morrido e deitou-se no meio da sua caverna, fingindo-se de morta.
Todos os bichos vieram olhar o seu corpo, contentíssimos.
A raposa também veio, mas meio desconfiada ficou olhando de longe. E por três dos outros animais gritou:
"Minha avó, quando morreu, espirrou três vezes. Espirrar é o sinal verdadeiro de morte."
A Onça, para mostrar que estava morta de verdade, espirrou três vezes. A raposa fugiu, às gargalhadas.
Furiosa, a onça resolveu apanhá-la ao beber água. Havia seca no sertão e somente uma cacimba ao pé de uma serra tinha ainda um pouco de água. Todos os animais selvagens eram obrigados e beber ali.
A onça ficou à espera da adversária, junto da cacimba, dia e noite. Nunca a raposa sentira tanta sede. Ao fim de três dias já não agüentava mais. Resolveu ir beber, usando duma astúcia qualquer.
Achou um cortiço de abelhas, furou-o e com o mel que dele escorreu untou todo o seu corpo. Depois, espojou-se num monte de folhas secas, que se pregaram aos seus pêlos e cobriram-na toda. Imediatamente, foi à cacimba.
A onça olhou-a bem e perguntou:
- Que bicho és tu que eu não conheço, que eu nunca vi?
- Sou o bicho Folharal. - respondeu a raposa
- Podes beber.
Desceu a rampa do bebedouro, meteu-se na água, sorvendo-a com delícia e a onça lá em cima, desconfiada, vendo-a beber demais, como quem trazia uma sede de vários dias, dizia:
- Quanto bebes, Folharal!
Mas a água amoleceu o mel e as folhas foram caindo às porções. Quando já havia bebido o suficiente, a última folha caíra, a onça reconhecera a inimiga esperta e pulara ferozmente sobre ela, mas a raposa conseguira fugir.

Era uma vez, no Caniço...

Era uma vez uma viúva e um viúvo: a viúva tinha uma filha e o viúvo também tinha uma. Ambas se chamavam Maria. A filha do viúvo ia à casa da viúva e brincava com a Maria da viúva. E a viúva dava muito pão e mel à Maria do viúvo. E depois dizia:
-Maria tu hás-de dizer ao teu pai que case comigo, que eu sou muito tua amiga, vou-te dar sempre pão e mel
Depois a filha perguntou ao pai:
-Pai, o pai porque não casa com a viúva? Ela é muito minha amiga; dá-me sempre pão e mel.
Dizia o pai:
-Ó minha filha, ela agora dá-te pão e mel, mas depois vai te dar pão e fel.
A Maria do viúvo ia sempre a casa da viúva. Esta perguntou-lhe:
- Então, tu disseste ao teu pai para casar comigo?
Eu disse, mas o pai disse que não; que a senhora agora era muito minha amiga, mas depois ia ser minha inimiga - dava-me pão e mel agora, mas depois ia me dar pão e fel.
A Maria do viúvo continuava a ir à casa da viúva brincar com a filha da viúva. E tanto a viúva foi dizendo que queria casar com o viúvo e a filha foi pedindo ao pai até que ele sempre casou.
A viúva mandava a Maria do viúvo - a enteada - para a cozinha e a filha dela era mais estimada. Depois ainda lhe dava muito trabalho: dava-lhe um par de meias para ela fiar num dia. Se ela não fizesse aquele trabalho dava-lhe uma sova - uma malha. Mas a Maria fez o par de meias por dia. Depois no outro dia, a madrasta deu-lhe par e meio de meias para ela fazer e se não conseguisse, levava uma malha. A Maria tinha uma vaquinha que a mãe lhe tinha deixado e então ia para o pé da vaquinha chorar, quando a madrasta lhe destinava muito trabalho. E a vaquinha perguntava:
- Maria, tu o que tens?
a Maria respondia:
- A minha madrasta dá-me muito trabalho e se eu não o fizer, ela dá-me uma malha, à noite.
A vaquinha respondeu:
- Põe aqui essa lã nos meus corninhos, que eu vou te ajudar.
E ela assim fez: Pôs a lã nos corninhos da vaquinha e chegou-se à noite estavam as meias prontas.
À noite, foi apresentar à madrasta o trabalho. A madrasta ficou invejosa e pensou que alguém a tinha ajudado, porque era impossível fazer aquele trabalho num dia sozinha. Mas no outro dia ainda lhe deu mais trabalho e a Maria voltou a ir para o pé da sua vaquinha chorar. A vaquinha dizia sempre para ela não se afligir e colocar a lã nos seus corninhos que o trabalho ficaria feito.
Cada vez a madrasta ficava mais desconfiada com o trabalho apresentado pela Maria do viúvo. Mas a vaquinha tinha nascido na noite de Natal e por isso tinha uma varinha de condão.
A madrasta começou a fazer planos para descobrir quem ajudava a Maria do viúvo. Um dia comprou tremoços e disse-lhe:
- Isto é para tu comeres quando fores andando, pelo caminho.
E ela assim fez; foi andando e comendo pelo caminho. Mas a madrasta mandou a filha ver até onde iam as cascas de tremoços. A Maria da viúva verificou que iam até o palheiro onde a filha do viúvo tinha a sua vaquinha e encontrou-a a conversar com a vaquinha e esta a ajudá-la no trabalho.
A filha da madrasta contou à mãe e esta fingiu-se doente e disse ao marido que a sua doença só se curava com um pedacinho de carne da vaquinha da Maria. O marido ficou triste porque não tinha coragem de fazer tal pedido à filha. Esta que o viu triste insistiu até que o pai lhe dissesse a razão da sua tristeza.
Quando o pai lhe explicou, a Maria ficou muito triste e foi chorar para o pé da sua vaquinha. Também ela teve de arrancar de Maria a razão da sua tristeza. Logo que a Maria lhe contou o desejo da Madrasta, a vaquinha disse:
- Não te aflijas. Diz que sim, mas com a condição de seres tu a lavar e arranjar as minhas tripinhas. A madrasta concordou e disse:
- Quero lá saber das tripas, eu quero é a carne.
Mas a vaquinha avisou a Maria que apenas encontrasse uma varinha de condão que estava nas suas tripas, não se importasse de arranjar o resto das tripas e lavasse muito bem a varinha e a colocasse debaixo da toalha do altar, mas de modo que o padre não soubesse e que, quando acabasse a missa, fosse lá buscá-la, mas de tal maneira que ninguém visse. E disse-lhe:
- Tudo o que tu precisares tu pedes em meu nome que eu vou te conceder a graça.
A Maria do viúvo continuou a trabalhar na cozinha e a Maria da viúva era muito estimada.
Chegou-se ao Domingo mãe e filha foram para a missa. E a Maria do viúvo dizia:
- Eu também queria ir à missa
As duas respondiam:
- Nem penses nisso, não tens roupa capaz de ir para a missa.
A Maria chorou e pediu à varinha de condão que lhe concedesse a graça de ter um fato para ir à missa. Então a varinha de condão concedeu-lhe essa graça. Deu-lhe um fato lindo como o Sol e ela também ficou toda formosa e foi à missa. Mas deixou primeiro elas caminharem para então ir para a missa.
Quando a madrasta e a filha chegaram da missa contaram que tinham visto uma menina muito linda, linda como o Sol, dentro da igreja. A Maria fingiu não saber de nada e disse que tinha muita pena de não a ter visto. No Domingo seguinte, sucedeu o mesmo. E ao terceiro Domingo também, mas com uma diferença, a Maria perdera um sapatinho de ouro. Um príncipe achou o sapato e disse que casaria com a menina a quem servisse aquele sapato. O príncipe foi por todas as casas para as meninas o experimentarem. Quando ele passou na casa da viúva, o sapato serviu na filha da viúva e o príncipe levou-a para casar consigo. Mas, quando já iam embora, o cãozinho começou a ladrar e a dizer:
- Lu! Lu! Menina bonita fica em casa, menina feia levas tu.
O príncipe voltou atrás e insistiu com a madrasta até que esta confessou que tinha uma enteada, mas que era feia e não tinha roupa. O príncipe quis vê-la. A Maria do viúvo pediu à varinha de condão a roupa e o outro sapatinho de ouro que havia usado no Domingo anterior e apareceu toda linda e o príncipe casou com ela.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O Menino e o Padre


Um padre andava pelo sertão, e como estava com muita sede, aproximou-se duma cabana e chamou por alguém de dentro.
Veio então lhe atender um menino muito mirrado.
- Bom dia meu filho, você não tem por aí uma aguinha aqui pro padre?
- Água tem não senhor, aqui só tem um pote cheio de garapa de açúcar! Se o senhor quiser... - disse o menino.
- Serve, vá buscar. - pediu-lhe o padre.
E o menino trouxe a garapa dentro de uma cabaça. O padre bebeu bastante e o menino ofereceu mais. Meio desconfiado, mas como estava com muita sede o padre aceitou.
Depois de beber, o padre curioso perguntou ao menino:
- Me diga uma coisa, sua mãe não vai brigar com você por causa dessa garapa?
- Briga não senhor. Ela não quer mais essa garapa, porque tinha uma barata morta dentro do pote.
Surpreso e revoltado, o padre atira a cabaça no chão e esta quebra-se em mil pedaços. E furioso ele exclama.
- Moleque danado, por que não me avisou antes?
O menino olhou desesperado para o padre, e então disse em tom de lamento:
- Agora sim eu vou levar uma surra das grandes; o senhor acaba de quebrar a cabacinha de vovó fazer xixi dentro!