sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Era uma vez, no Caniço...

Era uma vez uma viúva e um viúvo: a viúva tinha uma filha e o viúvo também tinha uma. Ambas se chamavam Maria. A filha do viúvo ia à casa da viúva e brincava com a Maria da viúva. E a viúva dava muito pão e mel à Maria do viúvo. E depois dizia:
-Maria tu hás-de dizer ao teu pai que case comigo, que eu sou muito tua amiga, vou-te dar sempre pão e mel
Depois a filha perguntou ao pai:
-Pai, o pai porque não casa com a viúva? Ela é muito minha amiga; dá-me sempre pão e mel.
Dizia o pai:
-Ó minha filha, ela agora dá-te pão e mel, mas depois vai te dar pão e fel.
A Maria do viúvo ia sempre a casa da viúva. Esta perguntou-lhe:
- Então, tu disseste ao teu pai para casar comigo?
Eu disse, mas o pai disse que não; que a senhora agora era muito minha amiga, mas depois ia ser minha inimiga - dava-me pão e mel agora, mas depois ia me dar pão e fel.
A Maria do viúvo continuava a ir à casa da viúva brincar com a filha da viúva. E tanto a viúva foi dizendo que queria casar com o viúvo e a filha foi pedindo ao pai até que ele sempre casou.
A viúva mandava a Maria do viúvo - a enteada - para a cozinha e a filha dela era mais estimada. Depois ainda lhe dava muito trabalho: dava-lhe um par de meias para ela fiar num dia. Se ela não fizesse aquele trabalho dava-lhe uma sova - uma malha. Mas a Maria fez o par de meias por dia. Depois no outro dia, a madrasta deu-lhe par e meio de meias para ela fazer e se não conseguisse, levava uma malha. A Maria tinha uma vaquinha que a mãe lhe tinha deixado e então ia para o pé da vaquinha chorar, quando a madrasta lhe destinava muito trabalho. E a vaquinha perguntava:
- Maria, tu o que tens?
a Maria respondia:
- A minha madrasta dá-me muito trabalho e se eu não o fizer, ela dá-me uma malha, à noite.
A vaquinha respondeu:
- Põe aqui essa lã nos meus corninhos, que eu vou te ajudar.
E ela assim fez: Pôs a lã nos corninhos da vaquinha e chegou-se à noite estavam as meias prontas.
À noite, foi apresentar à madrasta o trabalho. A madrasta ficou invejosa e pensou que alguém a tinha ajudado, porque era impossível fazer aquele trabalho num dia sozinha. Mas no outro dia ainda lhe deu mais trabalho e a Maria voltou a ir para o pé da sua vaquinha chorar. A vaquinha dizia sempre para ela não se afligir e colocar a lã nos seus corninhos que o trabalho ficaria feito.
Cada vez a madrasta ficava mais desconfiada com o trabalho apresentado pela Maria do viúvo. Mas a vaquinha tinha nascido na noite de Natal e por isso tinha uma varinha de condão.
A madrasta começou a fazer planos para descobrir quem ajudava a Maria do viúvo. Um dia comprou tremoços e disse-lhe:
- Isto é para tu comeres quando fores andando, pelo caminho.
E ela assim fez; foi andando e comendo pelo caminho. Mas a madrasta mandou a filha ver até onde iam as cascas de tremoços. A Maria da viúva verificou que iam até o palheiro onde a filha do viúvo tinha a sua vaquinha e encontrou-a a conversar com a vaquinha e esta a ajudá-la no trabalho.
A filha da madrasta contou à mãe e esta fingiu-se doente e disse ao marido que a sua doença só se curava com um pedacinho de carne da vaquinha da Maria. O marido ficou triste porque não tinha coragem de fazer tal pedido à filha. Esta que o viu triste insistiu até que o pai lhe dissesse a razão da sua tristeza.
Quando o pai lhe explicou, a Maria ficou muito triste e foi chorar para o pé da sua vaquinha. Também ela teve de arrancar de Maria a razão da sua tristeza. Logo que a Maria lhe contou o desejo da Madrasta, a vaquinha disse:
- Não te aflijas. Diz que sim, mas com a condição de seres tu a lavar e arranjar as minhas tripinhas. A madrasta concordou e disse:
- Quero lá saber das tripas, eu quero é a carne.
Mas a vaquinha avisou a Maria que apenas encontrasse uma varinha de condão que estava nas suas tripas, não se importasse de arranjar o resto das tripas e lavasse muito bem a varinha e a colocasse debaixo da toalha do altar, mas de modo que o padre não soubesse e que, quando acabasse a missa, fosse lá buscá-la, mas de tal maneira que ninguém visse. E disse-lhe:
- Tudo o que tu precisares tu pedes em meu nome que eu vou te conceder a graça.
A Maria do viúvo continuou a trabalhar na cozinha e a Maria da viúva era muito estimada.
Chegou-se ao Domingo mãe e filha foram para a missa. E a Maria do viúvo dizia:
- Eu também queria ir à missa
As duas respondiam:
- Nem penses nisso, não tens roupa capaz de ir para a missa.
A Maria chorou e pediu à varinha de condão que lhe concedesse a graça de ter um fato para ir à missa. Então a varinha de condão concedeu-lhe essa graça. Deu-lhe um fato lindo como o Sol e ela também ficou toda formosa e foi à missa. Mas deixou primeiro elas caminharem para então ir para a missa.
Quando a madrasta e a filha chegaram da missa contaram que tinham visto uma menina muito linda, linda como o Sol, dentro da igreja. A Maria fingiu não saber de nada e disse que tinha muita pena de não a ter visto. No Domingo seguinte, sucedeu o mesmo. E ao terceiro Domingo também, mas com uma diferença, a Maria perdera um sapatinho de ouro. Um príncipe achou o sapato e disse que casaria com a menina a quem servisse aquele sapato. O príncipe foi por todas as casas para as meninas o experimentarem. Quando ele passou na casa da viúva, o sapato serviu na filha da viúva e o príncipe levou-a para casar consigo. Mas, quando já iam embora, o cãozinho começou a ladrar e a dizer:
- Lu! Lu! Menina bonita fica em casa, menina feia levas tu.
O príncipe voltou atrás e insistiu com a madrasta até que esta confessou que tinha uma enteada, mas que era feia e não tinha roupa. O príncipe quis vê-la. A Maria do viúvo pediu à varinha de condão a roupa e o outro sapatinho de ouro que havia usado no Domingo anterior e apareceu toda linda e o príncipe casou com ela.

Um comentário:

Ana Bárbara, Graziele e Elys disse...

Esta é uma variante do conto de fadas "A Gata Borralheira" sem livro de figuras, nem cassetes com desenhos animados, porque a mulher de um lavrador não os conhecia. A história atrás referida fora-lhe contada pela sua avó (bisavó da Mariazinha).
Hoje, no Caniço, pode não haver quem conte a história "A Vaquinha da Varinha de Condão”, mas é necessário que se continue a contar ou a ler às nossas crianças a história da "Gata Borralheira" e outras do mesmo gênero.